sexta-feira, 11 de março de 2011

Poesia: Mãos Marcadas

Uma fagulha, uma rajada
O incêndio se alastra.
No velho pardieiro,
O inferno cresce.
Na fuga alucinada
Há maldição e prece.

Na tática expectativa dos
Bombeiros
Um grito rasga a noite
Infantil! Desesperado como um
Açoite
Na alma da multidão.

Mas onde há coragem para a
Salvação do ser que implora?
Os homens se agitam,
As mulheres choram
Mas arriscar a vida,
Só o amor paterno
A criança que padece é Jaime
O pequeno abandonado
Que vende jornais nas esquinas.
Pobre menino.

Então, enorme como um gigante
Impassível como uma estátua
Um vulto se destaca
O varredor de rua lança-se em meio às chamas
E volta com o menino nos braços
Num belo exemplo de amor
Um Herói!
Nas mãos dilaceradas,
na face contraída,
em seu olhar quase um alo de felicidade
Jaime está salvo!
O pobre e insignificante jornaleiro poderá anunciar ainda:
Olha o Diário, a Gazeta, a Folha!

Correm as semanas
O menino que vendia notícias
Era notícia nos jornais

Os repórteres fizeram a caridade publicitária
E agora? Agora o tribunal decide o futuro
Da criança renascida

Levanta-se um casal
Podemos dar-lhe um lar, Senhor Juiz,Nós somos ricos
Não temos filhos, Ele terá dinheiro
colégios, conforto, viagens; será feliz

Jaime sonha boquiaberto
Um lar,papai, mamãe, cobertor, conforto,
Ele que vivia meio morto,
Dormindo ao relento,
Quase pedindo esmolas.

Mas da platéia
Ergue-se a rude voz do varredor de ruas:
Senhor Juiz, eu quero o menino!
Vê-se a reprovação em cada olhar.
Ele sabe que vai perder
Mais sorri com esforço,
Contraindo uma horrível cicatriz no rosto
Sorri para o menino
com as mãos cobertas de ataduras

Jaime emocionado com
Aquelas mãos indaga:
Que foi? Quem machucou você?
Por que teu rosto é assim?
Por quê?

E como se disesse
A coisa mais natural do mundo
Responde o varredor de ruas:
São as marcas do meu amor
Foi o fogo quando salvei você!

Jaime esquece o tribunal,
Os futuros pais ricos,
O juiz que lhe pede silêncio
E lança-se ao pescoço do homem
Que enfrentara a morte
e que não temera o fim
Gritando entre soluços: Senhor Juiz, me deixa ir com ele
Eu o amo! Ele sofreu por mim.

É a criança mais feliz do mundo
Não terá dinheiro,
viagens, colégios, nada.
Mas terá um amigo,
Um grande amigo
O melhor presente para o coração


Agora, agora quero falar contigo meu amigo,
Porque eu sinto teu drama
Eu sei que o mundo lá fora te chama
E tudo o que ele te oferece
É mais forte que a tua fé

Talvez uma mulher bonita
Que numa frase maldita
Te ofereça prazer e emoção

Talvez o dinheiro fácil,
O orgulho que domina,
O vício que te assassina
Corrompam teu coração.

Seja qual for tua história,
Só te aponto um caminho:
Vai amigo, sobe ao Calvário sozinho
E contempla ali aquela cruz
Aquela maior, a do meio,
Pois é nela que morre,
e é dela que escorre,
O sangue santo de Jesus.

Escolhe: Cá embaixo
Optando a fama, o vício
A ruína e o prazer?
E lá no alto da colina,
Jesus a te dizer:
As feridas das minhas mãos
São as marcas do meu amor
Para arrancar-te do inferno
Para dar-te o gozo eterno
Eu aceitei toda dor.

Foi por amor que Eu derramei o meu sangue
Rasgando a cortina
Que ocultava o céu
Eu morri por teu pecado
e foi só por ele que Eu fiquei marcado
Mas o céu é teu,
eternamente teu!

Agora faça a tua escolha, amigo
Entre os bens da Terra
E a graça de Jesus
Mas antes lembra-te
Das duas mãos marcadas,
Feridas, dilaceradas
Por teu pecado
Sangrando, sangrando lá na cruz

Myrtes Matias